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Texto escrito por Beth Senra e publicado na edição de Maio da Revista “Unicidades” 11 Junho 2009

Com uma localização geográfica estratégica, na fronteira de dois estados, sofre de uma profunda indefinição cultural. Seu povo pensa como mineiro, vive como mineiro, se alimenta como mineiro e principalmente sofre da mesma nostalgia do mar que tanto faz sofrer os mineiros. Entretanto, seu lado capixaba faz com que quase todos corram para a beira do mar ao primeiro sinal de feriado e sua vocação carioca se faz presente ao lançar modismos e absorver as últimas tendências fashion.
Itaperuna tem um olho no passado e as mãos no futuro. Algumas de suas glórias são cantadas em prosa e verso. Todo itaperunense conhece pelo menos algumas estrofes do verso de Manoel Bandeira que fala de sua saga cafeeira e republicana.

Tem enorme orgulho de sua Câmara Republicana em pleno regime monárquico e ao mesmo tempo parte de sua população vende seu voto, por míseros trocados. Ousou eleger um prefeito de 89 anos e também uma Câmara conservadora sem nenhuma presença feminina em seus quadros. Tem imenso orgulho de seu já falecido Senador Sá Tinoco e há anos não consegue eleger sequer um deputado.

Do rio Muriaé, que corta toda a cidade, lindo, majestoso e encachoeirado, quase ninguém usufrui. Foi condenado à morte e como vingança se joga sobre a cidade sempre que pode. O primeiro relato de enchente em Itaperuna data de 1841 e mesmo assim a cidade insiste em crescer às suas margens, abandonando os morros que a rodeiam.

Tem um clima infernal de novembro até março e um clima maravilhoso de abril até outubro. Não é cidade de chuvinha, tem grandes tempestades e grandes enchentes. Muitas vezes leva meses sem ver uma gota de chuva.

Grande parte de seu desenvolvimento veio pelos trilhos da estrada de ferro, hoje desativada, entretanto possui um aeroporto com um prédio de arquitetura moderna, totalmente sem função, uma vez que aqui não existe linha aérea comercial. Em plena década de 50 e início da de 60, quando a aviação comercial no Brasil ainda era precária, contava com uma linha diária para o Rio de Janeiro.

Como em toda estação de trem, tem gente que chega, tem gente que fica e tem gente que sai. Itaperuna possui uma enorme população flutuante, sem raízes familiares na cidade. É o famoso “povo acolhedor.”

É rodeada de fazendas, algumas majestosas, mas com uma produção agrícola bastante deficitária. A grande bacia leiteira do passado não vingou. A fábrica de Leite Glória foi um marco na cidade e é ainda um celeiro de empregos. Mudou o nome e quando ameaça fechar assusta. A vinda dos estrangeiros para a instalação da fábrica foi um momento de mudanças na cidade. Eles chegaram e eram muitos, com sua língua enrolada, seus costumes diferentes e suas roupas esquisitas. Despertaram no itaperunense a fantasia e o desejo por outras terras. Aqui quem pode viaja muito para o exterior. Não é como Governador Valadares, aqui se viaja a passeio ou para estudar. Resquícios de outras eras.

O clube mais antigo da cidade, Itaperuna Tênis Clube, só por pouco tempo teve uma quadra de tênis e hoje jaz abandonado por seus sócios. Deve ser o metro quadrado mais valorizado da cidade.

O comércio em Itaperuna é pungente, efervescente. Itaperuna é pólo da região noroeste. Aos sábados a cidade fervilha de gente comprando e as lojas vendem muito. Surpreendentemente fecham suas portas ao meio-dia. Na contra mão do mundo inteiro que mantém o comércio aberto até bem mais tarde, até para favorecer quem trabalha a semana inteira.

Suas confecções de roupas íntimas se destacam no panorama estadual e suas “bordadeiras do futuro” em breve serão sucesso internacional, gerando empregos. No entanto sua população carente, miserável cresce a cada dia. Carros importados convivem com carroças puxadas a burros magros fazendo de seu trânsito urbano, um caos. Um entrave ao progresso, tão caro ao seu povo.

Por incrível que possa parecer, o progresso em Itaperuna chegou pelas mãos da Igreja Católica, sempre acusada de atraso, muitas vezes com razão. O progresso veio pela mão do Padre Humberto. Um padre alemão, atípico, engenheiro com imensa visão de futuro. Criou em uma época onde isso não era comum, uma escola técnica, hoje desativada. Fundou também a primeira faculdade em Itaperuna, FAFITA, hoje Fundação São José. Tinha na época excelente convivência com o Pastor da Igreja Batista, Pastor Abelar e juntos alavancaram a educação da cidade.

Itaperuna hoje abriga várias Faculdades e Universidades. A cidade é cheia de estudantes, de vários locais do Brasil. Fala-se muito da vocação universitária da cidade. Porém, os estudantes contribuem muito pouco para sua vida cultural. Grande parte dos hoje adultos de Itaperuna estudou no Colégio Bittencourt, em sua época também um marco. Em um momento em que os pais colocavam seus filhos em internatos católicos, administrados por padres e freiras, o Dr. Jair teve a ousadia, de abrir um internato masculino e outro feminino. E Itaperuna os acolheu de braços abertos. Movimentava a vida da cidade a presença de tantas moças e tantos rapazes. Hoje o antigo colégio virou um shopping. Sinal dos tempos.

Itaperuna é conhecida no Brasil inteiro por sua medicina de ponta. Sempre foi uma cidade de muitos médicos, alguns famosos, outros nem tanto. O Hospital São José do Avaí foi construído pela comunidade, difícil hoje uma vaga para essa mesma comunidade. Tem em seus quadros excelentes médicos e desde há algum tempo é local de estágio para os estudantes de medicina. Esses estudantes estudam no maior campus particular de uma universidade no Brasil. O local é lindo, moderno. O Hospital onde fazem estágio é excelente. E, no entanto, o curso de medicina foi descredenciado pelo MEC. Outro triste contraste!

E se não bastasse tantos contrastes, é hoje uma cidade com inúmeras igrejas evangélicas, guardada pela imagem do Cristo Redentor! E tem sua história contada em um livro chamado “Terra da Promissão”. Estranha e amada cidade, tão rural e tão moderna.

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